ROCINHA SEM FOME

A DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS É UMA TRADIÇÃO NAS FAVELAS
É O PROGRAMA "FOME ZERO" BEM ANTES DOS GOVERNOS ENGANADORES
A distribuição de alimentos para os necessitados sempre foi uma tradição não só na Rocinha, mas em muitas outras favelas onde a repartição de bens era uma lei. A união entre os diversos poderes legalizados ou criminalizados visando o bem comum sempre existiu. Um ou dois caminhões distribuem gêneros dos mais diversos fazendo uma política assistencialista, ignorando a alta de preços e as crises cíclicas do capital.O "Fome Zero" não foi uma invenção nem do Lula, nem do Fernando Henrique , embora eles vivem dizendo aos quatro ventos que foram os inventores do programa feito para aplacar a fome dos "caidinhos".Desde a "Era Denys", na década de oitenta, que o caminhão de alimentos é religiosamente distribuído no alto da favela, na maioria das vezes na Rua Um, tradição seguida fielmente pelos seus sucessores.Reza a lenda que Denir Leandro, o Denys no início de seu "reinado" após a eliminação de Zé do Queijo, em reunião com seus fiéis baixou uma ordem: "Chega de miséria no morro, não quero ver mais ninguém passando fome". Assim teria começado o "Fome Zero" da Rocinha. Mas afinal quem banca as despesas, com os preços subindo dia-a-dia , ás vezes lentamente, às vezes na chamada espiral inflacionária? A solução através dos tempos tem sido formar uma aliança cooperativa entre os diversos poderes que sempre existiram na "maior favela da América do Sul", pelo menos até agora: o comércio regular legalizado, o jogo do bicho, e o movimento.

Fome Zero photo Alcyr Cavalcanti all rights reserved

Mas nem sempre foi assim.Em 1988 uma verdadeira guerra entre o narcotráfico e o jogo do bicho interrompeu a tão esperada distribuição de alimentos, deixando muitos com a barriga vazia, e alguns mortos durante a refrega. O tráfico chefiado por Sérgio Bolado e o jogo do bicho cujo dono dos pontos era Luis Carlos Batista travaram uma disputa que deixou um rastro de mortos e feridos durante alguns meses. A situação só ficou resolvida depois de uma tensa reunião no alto da Rua Um quando foi assinado um armistício, e foi criado o GRES Acadêmicos da Rocinha, que viria segundo as palavras de seu primeiro presidente Ailton Rosa "como uma cura para a violência, uma forma de pacificação". Só assim o tão esperado caminhão de alimentos voltaria a ser distribuído.

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Com a chegada do novo milênio outros segmentos também resolveram aderir à distribuição de alimentos. Gilbert Leal, o "Cabeça do Futivolei" promove o "Natal sem Fome" e vários outros eventos, como torneios de vale-tudo, voleibol, futebol e show com vários artistas. Romário, Renato Gaúcho, Ronaldo Nazário e muitos outros famosos resolvem ajudar a iniciativa do "Cabeça".Em dias de hoje fica uma dúvida,com a invasão da favela e a implantação de uma UPP quem vai bancar a distribuição, visto que tanto o narcotráfico quanto o jogo do bicho ficarão enfraquecidos, ou segundo as autoridades desaparecerão? A resposta fica para daqui a algum tempo, quando tudo estiver resolvido. Enquanto isso milhares de pessoas esperam que a farta distribuição continue a ser feita, para confirmar uma tradição que vem desde o século passado.

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