OS BICHOS FAZEM O JOGO

O jogo do bicho, uma instituição capital para o entendimento de alguns negócios no Brasil
Bicheiros vivem num prende-solta, brincadeira de gato e rato
Mariel o "Ringo do Asfalto"
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O jogo do bicho uma instituição centenária tem sobrevivido apesar das investidas policiais. Suas histórias influenciaram as artes, e as universidades tem feito pesquisas e publicado estudos acadêmicos sobre sua atividade e suas relações. Desde o filme "Amei um Bicheiro" de Jorge Ileli até a novela "Pecado Mortal", sucesso da TV Record, a temática do jogo e suas relações com a sociedade são abordadas. A Globoplay lançou a série Doutor Castor, sobre o Capo di tutti Capi, Castor de Andrade.  O livro "É Sexta de Carnaval, O Ensaio é Geral" de Alcyr Cavalcanti uma obra de ficção, baseada em fatos reais, vai descrever as relações às vezes harmoniosas, às vezes de conflito entre o jogo do bicho, o samba e o comércio de venda de drogas no Rio de Janeiro.
 Castor e esposa photo by alcyr cavalcanti all rights reserved


O jogo do bicho foi criado em 1892 por um nobre, o Barão de Drummond, e passou a fazer parte da paisagem carioca. Os seus trabalhadores, os bicheiros, também conhecidos como apontadores ou aranhas,estão espalhados por toda a cidade, apesar de repressões eventuais, em uma espécie de prende-solta. Em estudo feito pela socióloga Elena Soarez em 1992 havia mais de três mil pontos no Rio de Janeiro e cerca de sessenta mil pessoas trabalhando diretamente no jogo. Essa maquina de fazer dinheiro é dividida geograficamente em cinco áreas principais: Zona Sul, Norte, Leopoldina, Centro e Rural, mantem uma loteria própria, a Paratodos.


Natal da Portela (de chapéu)   foto Alcyr Cavalcanti rights reserved
Embora atuem como agentes de mercadorias consideradas ilícitas, os banqueiros são ligados ao "mundo do samba", seja por meio de redes de solidariedade, ou por meio de relações de vizinhança, por serem moradores de uma mesma área.


Ponto de bicho em frente a secretaria de fazenda all rights reserved
A distribuição dos diversos pontos de apostas obedece a um critério rígido e tradicional: a descendência passando de pai para filho homem, de forma semelhante a algumas religiões primitivas, nas quais o ritual religioso era ministrado pelo filho mais velho. No caso do descendente não honrar com compromissos assumidos, a regra é clara: deve ser eliminado. O controle sobre os pontos de apostas nem sempre foi feito em paz e harmonia, e sua geografia não tem permanecido sempre a mesma. Uma série de assassinatos tem ocorrido nas últimas décadas, principalmente após a chegada das maquinas caça-níqueis, havendo uma verdadeira "guerra" pela tomada de pontos. A violência passou a ser uma constante principalmente após o assassinato do ex-policial Mariel Moryscotte de Mattos em 08/10/1981, e marca uma época de violência em toda a cidade, em que uma serie de mortes, fechamento de pontos, inúmeras prisões e a ascensão de pessoas que aparentemente não tinham nenhuma ligação com a contravenção se tornaram comuns. Mariel, um "Ringo do Asfalto" tenta tomar pontos de jogo em Niterói e morre assassinado em plena luz do dia, no centro da cidade. O ex- policial foi uma figura incomum, transitando pelos dois lados, ele foi um dos "homens de ouro" elite da policia carioca, e depois resolver ser um capo do jogo do bicho. Para o jornalista e escritor José Argolo ele foi "uma figura incomum em um teatro de absurdos".


Mariel o Ringo do Asfalto foto Alcyr Cavalcanti
Castor de Andrade e a cúpula da contravenção foto Alcyr all rights reserved
Na imagem feita em 1988 da esquerda p/ direita Luis Carlos Batista, Turcão (encoberto) Castor e Ailton Guimarães (de suéter). Após a morte de Castor, o capitão do exército Ailton Guimarães Jorge passa a se tornar a figura principal das escolas de samba no Brasil.


Raul Capitão dono do Jornal O Povo foto Alcyr Cvalcanti rights reserved

Raul Capitão dono de pontos de jogo do bicho no centro da cidade do Rio de Janeiro era um dos membros da cúpula da contravenção e foi também dono do jornal O Povo.

Comentários

Sergio Caldieri disse…
Muito bom mestre Alcyr Cavalcanti, no texto e fotos. O Castor tinha uma metalúrgica que fornecia material para o exército. Teve um entreposto de pesca onde a cocaína saia em latas de sardinhas para o exterior. Um jornalista do Estadão publicou a matéria. Os bicheiros foram importantes na ditadura militar para manter a alienação do povo, nas drogas, futebol e carnaval.

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