ROCINHA: PROMESSAS, APENAS PROMESSAS


A verdade da promessa ou o prognóstico depende da veracidade e também da autoridade de quem a pronuncia
Pierre Bourdieu     

PROMESSAS CONTINUAM: GOVERNADOR PROMETE FAZER UM BOULEVARD E ACABAR COM AS VALAS NEGRAS 
AS UNIDADES PACIFICADORAS FRACASSARAM E O PAC-2 E PAC-3 FICARAM NO ESQUECIMENTO

foto Alcyr Cavalcanti all rights reserved

Lideranças comunitárias têm feito sucessivas reuniões no CIEP Ayrton Senna para decidir o que fazer diante das promessas do governador. Agora foi a vez do novo governador Witzel, que prometeu urbanizar a Rocinha fazer um Boulevard, acabar com as valas negras, sanear a imensa favela e por fim transformá-la em um autêntico bairro, o que só existe no papel. Os moradores calejados de tanto palavrório preferem ver para crer. O problema é o dinheiro, ou a falta dele, ao que parece estão contando com  a privatização da CEDAE, que apesar de tudo tem alguns milhões em caixa.
 Há meses atrás o prefeito Marcelo Crivella em mais uma visita à Rocinha fez mais um pronunciamento infeliz, disse que "A Rocinha tá muito feinha" e prometeu nova maquiagem. Mas dias depois policiais militares invadem a Roupa Suja no final de um baile funk e na confusão eliminam oito pessoas. Segundo parentes dois não tinham nenhum envolvimento com o narcotráfico.
  Matanças, tiroteios têm sido uma constante há décadas. Moradores desesperados  há tempos atrás foram até o então governador Pezão, assíduo frequentador de algumas áreas da Rocinha  pedir Paz após quatro meses de matanças e início das obras prometidas. A Rocinha parece um santuário, a terra das promessas, muitas promessas, onde trabalhadores, bandidos e falsos heróis caminham lado a lado, fazendo de conta que acreditam em tudo aquilo que lhes é apresentado. Por um estranho fenômeno se assemelha a um vulcão aparentemente adormecido que pode entrar em ebulição de uma hora para outra, deixando um rastro de destruição.
O atual, prefeito bispo Crivella que visitou á favela no ´sétimo dia de tiroteios disse que é hora de "trocar as lâmpadas" e que vai dar um banho de loja na Rocinha. Crivella tem bases eleitorais sólidas na Rocinha, em uma das eleições teve transito livre para circular e panfletar em seus 16 sub bairros. Além do mais a Igreja Universal, da qual ele é uma das pessoas mais influentes tem um templo na entrada da localidade, o Largo da Macumba. Quem conhece bem as diversas áreas da favela, considerada bairro por decreto é o atual governador Luiz Fernando Pezão, que na época de vice-governador de Cabral era um "supervisor das obras" e visitava com bastante frequência e muita intimidade a parte baixa da Rocinha.
Desde a matança em serie no ano da graça de 1988,onde os "donos do morro" foram mortos sem dó nem piedade em "autos de resistência", muitas promessas foram feitas, algumas poucas foram cumpridas, muitas não. A UPP SOCIAL não saiu do papel, os índices de tuberculose e os casos de leptospirose são alarmantes, o desemprego principalmente entre os jovens é muito alto. O saneamento do Valão faz lembrar a dinheirama que escoou pelo ralo na época das obras do "Valão de Ouro".
Foto Alcyr Cavalcanti allrights reserved

A prometida pacificação apesar da implantação de Unidade Pacificadora-UPP primeiro passo para a UPP SOCIAL está longe de ser realizada. A simples troca de um oficial PM da chamada linha dura por uma mulher de voz suave e hábitos contidos não basta para trazer a tão almejada paz. A policia militar foi feita e desenvolvida como uma unidade de combate preparada para o enfrentamento, preparada para a guerra e não para a paz e harmonia. Voltando ao ano emblemático de 1988, a ocupação do "Flipperama da Rua 2" com a instalação de um posto policial, um DPO nada adiantou, o narcotráfico continuou e continua vendendo seu produto nas centenas de vielas da favela. A Rua 2 continua como um dos maiores pontos de venda de drogas a varejo em toda cidade, apesar da presença de centenas de policiais na localidade. Tiroteios constantes trazem pânico aos moradores. Os "arquivos mortos", de milhares de casos não esclarecidos continuam sem solução. Já basta o "Caso Amarildo" não por acaso morador da Rua 2 que vem se arrastando há anos, mas que ninguém consegue resolver.

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 No meio do fogo cruzado crianças ainda brincam, apesar da violência sem fim
Invasões se sucedem há vários anos e de nada adiantaram, a violência continua. Depois dos casos de torturas, estupros, pessoas indo pro saco em busca de informações, métodos medievais usados por uma policia despreparada que afirma aos quatro ventos que veio implantar a paz e promover a cidadania fica uma pergunta no ar: Para que serve a UPP?

Comentários

Unknown disse…
Rocinha, assim como todas as favelas e comunidades do Rio de Janeiro, vivem com o constante medo de um ente querido ser confundido com traficante e pagar por crimes que não cometeu. Infelizmente, sobreviver neste estado está cada vez mais difícil. Parabéns pela sensibilidade Alcyr!

Flávia Ferreira

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