REGINE'S: ONDE A NOITE ERA UMA FESTA




Festa Romana ao estilo Fellini photo Alcyr Cavalcanti all rights reserved
OS ANOS DOURADOS DA NOITE CARIOCA

A boate Regine's ficava no subsolo do Hotel Méridien no Leme, Zona Sul do Rio de Janeiro. De inicio era um clube privée, o charme era ter uma carteirinha de sócio para poder frequentar a mais bela casa noturna que a cidade maravilhosa veio a conhecer. O jet-set nacional e internacional batia ponto de segunda a segunda na época da disco-music com o som inigualável dos craques Amandio ou Ferrugem, que manejavam as carrapetas para animar a festa. A noite fervilhava, eram os anos setenta, e muita alegria, garrafas e mais garrafas de Veuve Cliquot e de Moet et Chandon eram consumidas pela juventude dourada em festas que pareciam não ter fim. Mas veio um dia, ou melhor uma noite em que a casa caiu. Claudia Lessin Rodrigues, uma linda jovem povoada de sonhos foi brutalmente seviciada e assassinada em uma noite de embalo, que havia começado no Regine's em julho de 1976.
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 A bela jovem e seus acompanhantes eram frequentadores de carteirinha do Clube Privée. Claudia, fascinada pela alegria artificial foi levada para uma festa na Avenida Niemayer, onde o consumo de cocaína e outros estimulantes eram servidos "de bandeja". Seus acompanhantes eram figuras da noite internacional, Daniel Labelle sócio de Gunther Sachs Von Opel na Boutique Mic Mac na França, Georges Khour dono de um salão de beleza no Hotel Méridien e Michel Frank dono dos relógios Mondaine com sede na Suíça. Conheci Daniel Labelle em uma festa chinesa na casa de Ionita Guinle, que foi casada com Carlos Penafiel, perseguido pela ditadura, meu companheiro no Grupo Câmera de cinema. Na festa só havia dois jornalistas convidados, Rogério Carneiro e eu. Labelle era sempre convidado para festas das socialites do circuito Rio, São Paulo, Búzios, quando foi intimado a depor, voltou rapidamente para a França, Michel conseguiu ir para Suíça, mas Georges Khour foi preso e condenado embora as provas não fossem conclusivas. O laudo cadavérico foi mudado, havia muita gente fina envolvida e Claudia além de ter sido esganada, e seviciada foi atirada como um saco de lixo nas pedras da Avenida Niemayer, após a tentativa de jogá-la no mar. O corpo ficou preso nas pedras próximo ao Chapéu dos Pescadores, um platô frequentado por pescadores do Vidigal e da Rocinha. Eu trabalhava no Globo, estava no plantão da madrugada, todos os fotógrafos faziam um rodizio, exceto alguns "amigos de copo" do editor. Fui o primeiro a chegar, bombeiros estavam tentando tirar o corpo preso às pedras. Com o tempo a investigação chegou até o ponto inicial, a boate Regine's. A promoter da "boite de nuit" era a modelo Lauretta, de prestigio internacional, que tinha como uma das funções trazer pessoas de seu relacionamento para o Regine's.Era uma época em que os paraísos artificiais eram movidos à base muita cocaína, um privilegio dos mais contemplados pela fortuna. A entrada maciça do "diabo ralado" ainda não havia acontecido, era um privilegio dos muito ricos. O "Caso Claudia Lessin" abalou as estruturas da maior e mais seleta casa noturna da cidade, a policia suspeitava da casa ser também um ponto de venda de drogas. Era necessário fazer alguma coisa, havia muito dinheiro envolvido, além do prestigio abalado, o Hotel era famoso em todo o mundo, pertencia também à companhia aérea Air France. Começou então a época de grandes atrações internacionais, para de novo fazer a noite do Regine's brilhar. Artistas famosos, milionários começavam ou terminavam suas noites na pista da boate. A noite no Régine's era um programa obrigatório.
Rod Stewart photo by Alcyr Cavalcanti allrights reserved
Conheci a grande noite carioca do Regine's levado pelo meu amigo Luiz Fernando Macambira, atualmente residindo na Côte d'Azur na França. Estávamos perseguindo a milionária Cristina Onassis (foto), que só poderia se divertir na noite carioca em um clube privée. Detalhe entrei como convidado e a carteirinha não era dele Luiz Fernando, mas de seu amigo Antenor Mayrink.
Cristina Onassis photo by Alcyr Cavalcanti all rights reserved

Fiquei extasiado com a beleza do jogo de espelhos e das luzes da boate. Sorrateiramente tirei a minha velha Nikon e disparei em direção à mulher mais rica do mundo. Chamaram a segurança, e depois do quarto clique fomos expulsos. Por sorte o porteiro da noite era um amigo, o fortão Helinho, a quem conhecia de Niterói. Ele me conduziu para fora, mas sem violência. Tempos atrás havia dado a ele uma foto dele com sua esposa. Gentileza gera gentileza. Havíamos montado uma equipe ao estilo paparazzi romano, onde as imagens faziam a notícia. Estávamos bem equipados, tínhamos automóveis, motos e até um helicóptero à disposição de três fotógrafos Luiz Fernando, Roberto Price e eu, e  a retaguarda de William brother, laboratorista do Globo . O negócio agora era correr atrás da mídia impressa, afinal eram duas da manhã. A festa e a correria atrás das celebridades vão continuar...

Comentários

Unknown disse…
Alcyr,

Que bom relembrar essa epoca memoravel atraves do teu blog muito bem escrito.
Me envia seu email pela conta Google para reestabelecermos contato.
Forte abraco
Luiz Fernando

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