O "COMANDO VERMELHO", OU COMO TUDO COMEÇOU

DA FALANGE VERMELHA AO COMANDO VERMELHO-CV, A MÃE DE TODAS AS FACÇÕES
PAZ, JUSTIÇA E LIBERDADE-PJL, FOI O LEMA EM SEU INÍCIO
      " Nós Vivemos num Lado Certo da Vida Errada,
        Fé em Deus e nas Crianças, na Certeza que o Mal Jamais Vencerá o Bem"
                                      Assinado O Coletivo-CV
Em postagem anterior vimos como se formou o embrião do Comando Vermelho, a Falange Vermelha na Ilha Grande. A mistura de presos comuns "barra pesada" com teóricos do marxismo leninismo não surtiu o efeito desejado pela repressão, exterminar todos os presos políticos tachados de comunistas e perigosos terroristas. No Rio de Janeiro o Terceiro Comando-TC e Amigos dos Amigos-ADA nasceram de uma dissidência ou em antagonismo ao CV. Da mesma forma a rede criminal Primeiro Comando da Capital-PCC, oriunda dos presídios  de São Paulo foi inspirada no CV.


Festa do CV no presidio(ao centro Gregório Gordo) Foto Alcyr Cavalcanti all rights reserved
Os presos da LSN reunidos no Fundão procuravam ficar isolados dos outros presos em uma união pela sobrevivência.  Eles conseguiram dar um nível de organização e dignidade aqueles que nada tinham e viviam em condições sub humanas com o único intuito de sobreviver. O "Massacre da Ilha Grande" o extermínio de membros da Falange Jacaré no dia 17 de setembro de 1979 foi cantado em verso e prosa nos presídios de todo o Brasil. Começa então o que meses antes seria impensável a criação do Clube Cultural e Recreativo dos Internos, a criação de uma cantina e de um sistema de cooperativa e de uma "caixinha" que persiste até os dias de hoje. Começaram a impor uma série de procedimentos a ser obedecidos, um embrião de organização em um sistema prisional altamente desorganizado. Começam a se destacar no meio carcerário algumas "cabeças pensantes" que se destacam pela coragem, pela liderança, pelo exemplo, entre eles podemos destacar William da Silva Lima o Professor, que escreveu "Quatrocentos Contra Um", Carlos Mesquita, Paulo Nunes Filho, Paulo César Chaves, o PC personagem do livro  O Bandido da Chacrete do jornalista Júlio Ludemir com a minha modesta colaboração, José Jorge Saldanha o Zé Bigode, um mito na bandidagem pelo episódio no Conjunto Altinópolis na Ilha do Governador, Eucanaã Azevedo e Apolinário de Souza o Nanai , na época a liderança mais marcante do grupo. Com a Lei da Anistia, promulgada em 1979 os presos políticos foram aos poucos anistiados e saíram da Ilha, mas o sentido de um começo de organização permanece, e os citados acima começam a ditar as ordens. O núcleo central vai ser ampliado, começam novas lideranças conforme vão aumentando os "irmãozinhos do CV", os assaltos a banco e a carros forte vai aumentando e a "caixinha" vai engordando. Ao mesmo tempo regras são impostas após exaustivas reuniões para serem obedecidas onde a delação era punida com a morte, assim como a violência com outros membros do Comando. Tanto nas prisões como nos morros o estupro era moralmente condenável e considerado crime desprezível que afronta o rígido código do CV e causa espanto a série de mulheres estupradas dentro das favelas nos dias de hoje.  Todos devem seguir o lema "Paz, justiça e Liberdade" adotada posteriormente pelo primeiro Comando da Capital-PCC. Assaltos e furtos tanto nas comunidades quanto dentro das prisões são punidos severamente. Presenciei uma vez quando ao fazer trabalho de campo para minha tese de mestrado na Rocinha defendida na  Universidade Federal Fluminense "Samba, Jogo do Bicho e Narcotráfico", sob a orientação da eminente antropóloga Simoni Lahud Guedes deparei com um jovem todo ensanguentado cercado por PMs. Ninguém me dava informações precisas do porque daquela situação. Fiquei mais tarde sabendo através de moradores que o jovem havia tido um corretivo dado pelo "tribunal do tráfico". Ele havia furtado um rádio após ter invadido uma casa, era um assaltante contumaz roubando a vizinhança. Foi considerado um "bandido porco", um ser desprezível que deveria ser executado após muito sofrimento. Um dos soldados com alto conceito apelou ao chefe do morro que atendeu ao apelo e mandou dar dois tiros na perna e depois jogar o rapaz no Valão. PMs foram ao local e ajudaram a retira-lo. Foi salvo pelos PMs.
 Na coluna Ancelmo Góis do Globo de 21/09/2002 uma série de obrigações deveriam ser cumpridas e fazia alusão ao grupo "Como uma família que se unida jamais será vencida e na certeza que o mal jamais vencerá o bem", assinado O Coletivo-CV. Para William da Silva Lima em seu livro Quatrocentos Contra Um cito um dos trechos: "Na prisão 'Falange' quer dizer um grupo de presos organizados em torno de um interesse comum. Daí o apelido Falange da LSN logo transformado pela imprensa em Comando Vermelho". O CV ainda é a maior rede criminal do Estado do Rio de Janeiro, mas tem sofrido perda de inúmeros pontos de venda e de territórios após a instalação das UPP e do crescimento das outras redes principalmente da ADA e do Terceiro Comando. A substituição de velhas lideranças em virtude da morte da quase totalidade dos fundadores (restam apenas três) e da substituição das lideranças da segunda geração por jovens de pouca experiência tem mudado a conduta dos integrantes da mais antiga rede criminal. A disputa pelo domínio territorial tem obrigado a migração para localidades distantes que veio a produzir um distanciamento e mesmo um estranhamento por parte dos moradores. As boas relações de vizinhança e compadrio tendem a desaparecer, situações de conflito tem se produzido e a violência tem aumentado gradativamente causando um desequilíbrio cada vez maior nas relações com os moradores das favelas e conjuntos habitacionais.

continua em próxima postagem

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