ROCINHA: TRINTA E CINCO ANOS DE MUITO SANGUE E MUITAS PROMESSAS

atualizado em 02/03/2023
 
ROCINHA: PARAÍSO TROPICAL OU INFERNO ASTRAL?
A "MAIOR FAVELA" VIVE UM FRÁGIL EQUILÍBRIO TEMPORÁRIO
MORADORES DIVIDIDOS ENTRE A ESPERANÇA E O DESCRÉDITO
 A "Maior Favela da América do Sul" como é conhecida por seus mais de 120 mil moradores, situada entre a Gávea e São Conrado, se não é a maior é sem sombra de dúvida a mais bela de todas. O por do sol do alto da Rua Um, ou do Laboriaux é inenarrável, quem viu pode se orgulhar de ter vivido um dos mais belos espetáculos de todo o planeta, mas infelizmente isto só é possível com a autorização do eventual dono do morro, principalmente quando a disputa pelos pontos de venda de drogas se transforma em uma disputa de sangue, como nos dias de hoje entre o bando de Rogério 157 e o bando de Antônio Bonfim Lopes o Nem.
foto Alcyr Cavalcanti all rights reserved reprodução proibida sem autorização
Nem mesmo preso em unidade de segurança máxima foi condenado a 66 anos de prisão pelos assassinatos em 2011 da modelo Luana Rodrigues e de sua amiga Andressa de Oliveira que atuavam como "mulas do tráfico".
 A "Mina de Ouro" como foi chamada pela detetive inspetora Marina Magessi sempre foi alvo de uma disputa entre grupos que desejam o monopólio da exploração do comércio de venda de drogas, a varejo, na imensa favela e das altíssimas taxas de lucro, milhões de reais conforme afirmação do governador Luiz Fernando Pezão , conhecedor dos problemas da Rocinha. Desde a "Era Denys"   nos anos oitenta que assumiu o controle após afastar seus concorrentes, e se livrar de seu principal opositor o nordestino Zé do Queijo, que invasões, seja por parte do aparato repressivo do Estado, seja por redes criminais contrárias, que o medo impera na localidade.


 Muitas disputas entre redes criminais pelo controle das inúmeras "bocas de fumo" se sucederam ao longo das três décadas. Quem não se recorda da disputa de sangue entre Luciano Barbosa da Silva o Lulu ou Bigode para os mais chegados e Eduíno Eustáquio o Dedé que começou em uma Semana Santa de abril de 2004, e deixou um rastro de destruição. Assim como agora, nos novos tempos envelhecidos do século XXI Lulu era da rede criminal ADA e Dedé do Comando Vermelho, no fundo uma luta entre facções.
Enterro de Maria Helena foto Alcyr Cavalcanti 1987 all rights reserved
 Comecei a ver e sentir ao vivo e a cores os inúmeros problemas que afligem um número incontável de moradores na cobertura jornalística para o Jornal do Brasil, na manhã do dia 12 de novembro de 1987 enterro de sua líder comunitária Maria Helena pranteada até os dias de hoje. Ela foi assassinada no seu pequeno apartamento na Curva do S deixando dúvidas até hoje sobre os motivos de sua morte. Uma coisa é certa sua morte foi mais um capítulo pela luta pelo poder que permanece até os dias de hoje. Para a líder comunitária Maria Elísia Pirozzi a Dona Elisa a Rocinha só teve duas autênticas lideranças que ficarão para sempre na lembrança como autênticos socialistas dividindo com os pobres tudo o que possuíam: Maria Helena Pereira 27 anos e Sérgio Ferreira da Silva o Bolado 21 anos, chefe do narcotráfico, ambos assassinados.
A Rocinha é uma localidade considerada como bairro por um decreto, mas que tem inúmeras áreas características de favela, em seus inúmeros becos e vielas insalubres totalmente sem urbanização. Muitas promessas foram feitas seja pelos presidentes, governadores ou prefeitos que se sucederam ao longo dessas três décadas mas muito pouco ou quase nada foi cumprido. Os sucessivos programas de crescimento PAC-1, PAC-2, PAC-3 foram alardeados em muita festa, mas muito pouca coisa foi feita, o PAC-1 que veio a trazer muitas esperanças tem ainda obras incompletas e outras que não saíram do papel, embora R$ milhões tenham desaparecido como em um passe de mágica. As obras em continuação do PAC-2 e PAC-3  talvez nunca mais sejam realizadas.
 Trinta anos de muito sangue a também de promessas, muitas promessas. Vem aí mais uma eleição, novas mentiras vão ser despejadas com o auxílio de inescrupulosos moradores locais, que talvez não sejam tão inescrupulosos assim, mas iludidos e quem sabe apenas desesperados por tão ter a quem recorrer. Os milhares de trabalhadores que residem em seus dezessete sub bairros em mais de 26 mil unidades habitacionais e sentem na própria carne mais uma invasão, mais uma luta fratricida,  continuam sonhando com a tão desejada Paz. Só esperam que uma pequena parte das promessas feitas, de maneira irresponsável pelos governantes das três esferas sejam cumpridas, para enfim poderem viver como qualquer cidadão dessa imensa bela e ao mesmo tempo caótica e às vezes imunda Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, e como diria o poeta Cidade Maravilha da Beleza e do Caos.

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