UM FINAL DE SEMANA NA "MAIOR FAVELA DA AMÉRICA DO SUL"

TIROTEIO COM MORTOS NA DISPUTA POR PONTOS DE VENDA DE DROGAS AMBULANTES NÃO ESTÃO VENDENDO NADA DEVIDO AO FORTE TIROTEIO
TIROTEIOS ASSUSTAM MORADORES QUE PEDEM PAZ E RECLAMAM DO DESCASO DAS AUTORIDADES OBRAS ESTÃO PARALISADAS
O final de  semana foi de muito sangue e pânico entre os moradores. Teria havido um racha entre os narcotraficantes após desavenças entre Antônio Lopes o Nem, em presídio de segurança máxima e seu braço direito na favela, Rogério 157. A partir de agosto os confrontos começaram e se agravaram com a morte de Perninha, um dos gerentes que está na pista desde a época de Bemtevi, morto em 2005. O comércio fechou as portas e o confronto resultou em pelo menos três mortos e vários feridos.
 A crise do capital chegou ao comércio da Rocinha, os ambulantes não estão vendendo quase nada e o presente para o Dia dos Pais vai ser um almoço melhorado com parentes que moram nas outras localidades. Além do comércio ter sido afetado pela crise, o desemprego atormenta os jovens moradores da "Maior Favela".  Há semanas atrás  moradores fizeram protesto na entrada do Túnel Zuzú Angel contra a violência que tem voltado com intensidade nos últimos dias. Ambulantes e moradores reclamam também da crise econômica que afeta a todos e criticam os governantes que tudo prometem antes da eleição e depois desaparecem e não cumprem nada do que prometeram. Duas mortes há alguns dias vieram trazer ameaças de muita violência. Um rapaz foi esfaqueado por outro jovem na passarela que dá acesso à favela e um outro foi ferido mortalmente em uma troca de tiros entre policiais e traficantes. Os dois casos motivaram o protesto que interditou as pistas na saída do túnel.
Depois de algumas semanas sem visitar a "Roça" resolvi dar uma olhada para verificar as mudanças prometidas pelos ilustres governantes e reencontrar velhos amigos de uma época de muita violência, mas também de muita paz, uma era que já terminou, talvez no final de outubro 2005 com a traição que resultou na morte de Erismar o Bentevi em uma madrugada muito cinzenta. A violência continua, tiroteios são diários e a prometida pacificação não veio. Na tarde de quarta feira dia 28/06 o menor Marcos Paulo também conhecido como Birosca  morreu em um confronto entre policiais militares e traficantes. Ele foi colocado em uma viatura da PM e levado ao hospital, mas não resistiu. O líder comunitário Wallace Pereira afirmou que ele pode ter sido executado, pois estava caído em um beco quando foi levado para hospital. Na noite de quarta feira 28/06 Renan Neves foi esfaqueado na Passarela projetada por Oscar Niemayer que dá acesso á localidade. Não resistiu aos ferimentos e veio a falecer.
Há pouco mais de um mês  um jovem que trabalhava como garçom foi espancado e esquartejado a golpes de machado. Um casal foi parado e obrigado a levar o que restou do corpo para a porta do Miguel Couto. O Tribunal do Tráfico continua impiedoso usando métodos medievais.   Sábado, no inicio da manhã, milhares de pessoas caminham rapidamente para a escassa condução que irá leva-los ao trabalho enquanto outros vão para uma das mais belas praias da cidade, embora ainda poluída pelo descaso dos governantes. Tudo estava na calmaria que sucede as tempestades, como o tiroteio que deixou um morto e quatro feridos na madrugada do dia de Natal. O "nobre" prefeito fez estapafúrdias mudanças que desagradaram a tudo e a todos, coletivos desapareceram. Muito policiamento em duplas ou em quintetos espalhados pela imensa favela.

Mas em determinados lugares o movimento continua firme e forte ignorando a invasão policial iniciada no final de 2011. Não existe mais o "pregão das drogas" em um autêntico mercado livre, onde a Via Ápia e o Valão fervilhavam, e homens armados com fuzis AK-47 e pistolas, alguns vestidos com coletes da Policia Federal, provavelmente falsificados,  vigiavam ostensivamente as inúmeras "bocas de fumo" na venda das mercadorias de prazer. Agora parece ter havido um acordo de cavalheiros para evitar um inútil derramamento de sangue entre soldados de ambas as partes.
roupa suja

O Caso Amarildo em 2013 foi um divisor de águas na política de segurança do Estado do Rio de Janeiro. Oficiais da PM que estavam isentos de qualquer suspeita respondem a inquéritos com provas incontestáveis de graves violações de direitos, extorsões, sequestros, torturas, execuções, crimes de toda espécie. As unidades de pacificação passaram a ser contestadas e policiais que desrespeitavam moradores, agora são também desrespeitados.
Em conversa informal com pessoa ligada à contravenção pude constatar que as obras do PAC que vieram como "carro chefe" da presidente, que era chamada de "Mãe do PAC" sequer saíram do papel, e as poucas que ainda estão sendo efetuadas caminham a passos muito lentos ou estão paralisadas. As apostas continuam sendo feitas, embora de maneira discreta, mas os apontadores (aranhas) não necessitam usar subterfúgios como meses após a implantação da UPP, em que presenciei uma situação inusitada: um ponto de apostas ficava em uma viela onde a chegada inoportuna dos policiais era controlada por um jogo de espelhos, e a banca era desmontada com extrema rapidez.
Na Roupa Suja um dos dezoito sub bairros da Rocinha a urbanização não foi feita, o narcotráfico é muito forte e as obras  do plano inclinado estão paralisadas. O Largo do Boiadeiro continua um caos onde nada foi feito e virou um ponto de mototaxistas. O saneamento uma das exigências da enorme população continua na promessa e nas pranchetas dos técnicos, mas parte do dinheiro saiu e evaporou, fazendo lembrar a época do 'Valão de Ouro" onde milhões escoaram pelo ralo. A praia de São Conrado continua muito poluída e quando chove é um enorme esgoto.Os moradores da favela estão descrentes que algo possa melhorar, e não acreditam mais nos falsos líderes que começam a visitar a Rocinha a cata de votos para as eleições que se avizinham em 2018.
Continua na próxima postagem...

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