"BANDIDA" FAZ SUA ESTREIA NA ROCINHA EM GRANDE ESTILO
FILME DE JOÃO WAINER MOSTRA A TRAJETÓRIA DA DONA DO MORRO
A ESTREIA EM CINEMAS DE TODO BRASIL VAI SER EM 20 DE JUNHO
Foi uma noite de festa na quadra da Acadêmicos da Rocinha, "Bandida" fez sua estreia para convidados com casa cheia. Wainer fez questão de lançar o filme na quadra da Escola de Samba para homenagear os moradores da "Maior Favela da América do Sul", como era considerada nos anos 80. O filme baseado no livro de Raquel de Oliveira não pretende ser um documentário sobre a favela nos anos 80, tem algumas cenas baseadas na dura realidade da violência urbana, onde a disputa pela hegemonia traz muito sangue e muitas lágrimas. Policiais e bandidos são mostrados como são, nem mocinhos nem facínoras, frutos de uma sociedade desigual onde a violência predomina e os despossuídos são as principais vítimas. O filme foi rodado na comunidade do Pavão-Pavãozinho. Rebeca, a personagem com interpretação firme de Maria Bomani procura reproduzir a trajetória de uma mulher que foi vendida ainda menina ao dono do morro, na época o dono dos pontos do bicho Amoroso, representado por Wilhem Cortaz. A menina rebelde com a verdadeira prisão a que era submetida, se apaixona por um jovem traficante Pará que acaba se tornado o chefe do tráfico após a prisão de Del Rey que era dono das bocas de fumo. Rebeca, então uma bela jovem passa a fazer a contabilidade dos pontos de venda de drogas e vive em um paraíso artificial causado pelo consumo excessivo de cocaína.
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foto divulgação |
Com a morte de seu companheiro Pará em uma troca de tiros com a polícia enquanto se refugiavam em um sítio ela volta para o morro em uma disputa sangrenta pela retomada das bocas de fumo. A Rocinha, nos anos 80 era o maior e mais lucrativo ponto de venda de drogas, a varejo, uma "mina de ouro" como definiu a delegada Marina Magessi. O filme produzida pela Paris Filmes chega a todo país dia 20 de junho e seguramente vai ser um sucesso, e procura mostrar que a violência é inerente ao sistema que acaba produzindo situações de extrema violência em grande parte pelas desigualdades sociais que acabam criando as situações em uma espiral sem fim. João Wainer com a vivência de ter sido um dos editores da Folha de São Paulo, consegue mostrar essa dura e fria realidade sem cair no discurso panfletário, embora seja uma obra de ficção mostra uma parte muito importante dos "donos do morro" que acabam influenciando e m toda a cidade.
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photo by alcyr cavalcanti all rights reserved |
No verão de 1988, eu e o repórter Jorge Antônio Barros ficamos dez dias na Rocinha para ver o que havia de fato na "guerra" entre o jogo do bicho e sua milícia "os encapuzados" e o "meninos do movimento sob as ordens de Sérgio Ferreira o Bolado e seu lugar tenente Ednaldo de Souza o Naldo. As ordens vinham de dentro da cadeia, o dono mesmo era Denyr Ferreira o Denys cultuado até hoje pelos moradores. O breve e intenso reinado de Bolado durou pouco, com sua morte em maio de 1988, a sucessão teria que ser bem rápida, sem disputas internas, afinal o movimento não pode parar. Assumiram em um triunvirato Naldo, Cassiano e Buzunga, mas Naldo ficou mais em evidência após reportagem no JB, motivado por uma foto publicada em que Naldo fazia homenagem ao amigo que havia partido com uma salva de tiros de sua metralhadora batizada de Jovelina. O novo chefe do tráfico vestia uma jaqueta com um capuz, que virou moda entre muitos jovens na época, a Grife Naldo. A nova moda vai durar muito pouco, devido a muita pressão policial e talvez muita visibilidade na mídia e alguma inabilidade para conduzir os negócios aliados a um excessivo consumo de cocaína, que provocava um verdadeiro derrame, além de um descontrole permanente. Usavam cocaína às vezes durante mais de dois dias, sem dormir e quando caiam na cama dormiam pelo menos 24 horas seguidas. As bocas de fumo viviam em uma festa sem parar, muito pó e muita bebida, desde a cerveja ao whisky e a cachaça. No dia 17 de julho de 1988 essa festança iria ter um fim, em São Gonçalo em um sítio no Morro do Grotão PMs do serviço reservado PM2 foram recebidos a bala pelos chefes da Rocinha que administravam seu negócio à distância. Pedira reforço e vieram mais de 60 policiais e mataram todos do bando da Rocinha. em declarações à imprensa uma morador que não quis se identificar "disse que foi um massacre, uma execução em massa" Naldo tombou em meio a uma plantação de bananeiras, portava uma pistola 9mm, vestia uma camisa vermelha (em alusão ao Comando Vermelho-CV) e estava descalço. A uma pequena distância tombou Cassiano lugar tenente de Naldo e seu irmão Leandro. Caíram também Adauto o Molecão, o menino Fãbio o Brasileirinho com apenas 14 anos Erick que apesar de ser educado na classe média era filho de uma juíza. De início não era aceito entre os traficantes, por insistência acompanhou os companheiros até o final. Enquanto o bando da Rocinha era dizimado sem dó nem piedade, em uma estranha coincidência havia grande festa na garagem de ônibus TAU na estrada da Gávea para a criação da G.R.E.S. Acadêmicos da Rocinha , fruto de um acordo para por um fim às disputas de sangue entre bicheiros e narcotraficantes. Segundo seu primeiro presidente a escola "viria para acabar com a violência". Atualmente a Rocinha vive em um aparente equilíbrio entre as diferentes forças e campos que coexistem na localidade. Os moradores reclamam principalmente das inúmeras promessas feitas e que apenas algumas poucas foram cumpridas, mas continuam a confiar que em algum tempo dias melhores virão.
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